Muitas
vezes quando falamos de coluna referimo-nos apenas à parte torácica
e lombar da mesma, esquecendo-nos que o pescoço também faz parte da
coluna.
Muitas
vezes desprezado, o pescoço desempenha função importantíssima,
não só no suporte e mobilidade da cabeça, mas também na função
dos nossos braços e principalmente como elo de ligação para o
resto do corpo (passam pelo pescoço todos as artérias e nervos que
irradiam para o resto do corpo).
Não
é por acaso que utilizamos a expressão “estar com a corda ao
pescoço”, porque se o pescoço quebrar acaba tudo. Na vida
selvagem vemos com frequência que o pescoço é a parte normalmente
atacada pelos predadores quando querem caçar uma presa.
Fig. 1 - Músculos do pescoço
Pessoalmente,
tenho verificado através da minha prática clínica que existem
inúmeras pessoas com problemas no pescoço, ou com problemas nos
braços e omoplatas que derivam do pescoço. Parte disto deve-se
seguramente à “cultura” (como lhe chama a fisioterapeuta
americana Shirley Sharmann) do “colapso” da coluna, bem
identificada nas figuras abaixo.
Fig. 2 - Pescoço "colapsado" na posição A e corrigido na posição B
Fig. 3 - Coluna "colapsada" na posição B e corrigida na posição A
O colapso” da coluna não é mais do que um “afundar” da
mesma, agravando as suas curvaturas naturais, como se um peso
superior a comprimisse para baixo.
Para
este “colapso” na coluna contribuem seguramente muitos fatores,
nomeadamente a nova epidemia dos smartphones e tablets que nos
“obrigam” a curvar a cabeça para olhar para o ecrã, o stress e
desgaste físico e mental, mas também um fator muito prevalente na
nossa cultura, nomeadamente na cultura do trabalho: o estar sentado.
Seja estar sentado à secretária, a conduzir, ou a manobrar uma
máquina, esta posição mantida por longos períodos é seguramente
uma dos fatores na origem do nosso colapso.
Estar
sentado muito tempo vai inevitavelmente levar a que adoptemos a
seguinte postura.
Fig. 4 - "Colapso" do pescoço em sentado
Antigamente,
no tempo dos meus avós, o pescoço era muito mais utilizado do que
nos dias de hoje, muitas vezes até em demasia. Por exemplo, o
transporte de água com os cântaros à cabeça era algo habitual,
bem como de palha ou outras matérias. Não havia TV ou tablets para
olhar para a frente ou para baixo, pelo que o pescoço, quando
solicitado, era normalmente obrigado a trabalhar verticalmente, como
se vê na figura.
Fig. 5 - Tarefa antiga de levar água em cântaros à cabeça. O pescoço é desafiado na vertical.
Nos
dias de hoje tudo mudou. Os cântaros “partiram-se” com o advento
da água canalizada e engarrafada e dos transportes automóveis, e a
minha geração passa agora grande parte dos dias a trabalhar com o
seu pescoço num plano horizontal, ou meio horizontal, como se vê
nas figuras.
Figuras 6 e 7 - Sentado ao computador ou ao telemóvel, pescoço a trabalhar mais horizontalmente
Muito
mudou nalgumas dezenas de anos. Arrisco dizer que, se por um lado a
falta de levar cântaros de água à cabeça nos poupou a problemas
de compressão do pescoço (devido às fortes cargas carregadas), por
outro fortalecia os seus músculos estabilizadores e fazia-o resistir
num eixo vertical, fortalecendo-o.
Ao
contrário de hoje, em que o peso na cabeça e pescoço não existe,
mas o mesmo trabalha muito num eixo horizontal, sem o desafio
necessário para se fortalecer e alinhar.
O
meu conselho é: promovam a verticalidade do pescoço e da coluna, especialmente
se trabalharem muito tempo sentados. Não é preciso levar
cântaros à cabeça (que pode até ser prejudicial) mas basta, por
exemplo, fazer um simples exercício:
- Coloque-se
com as costas encostadas a uma parede e os pés ligeiramente
afastados da parede. Procure encostar as nádegas, depois a parte
torácica da coluna e no final a cabeça e mantenha a posição,
tentando alongar a coluna.
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